Não importa se só tocam o primeiro acorde da canção. A gente escreve o resto em linhas tortas, nas portas da perseguição. Em paredes de banheiro ou nas folhas que o outono leva ao chão. Em livros de história seremos a memória dos dias que virão. Se é que eles virão...

Não importa se só tocam o primeiro verso da canção. A gente escreve o resto sem muita pressa, com muita precisão. Nos interessa o que não foi impresso e continua sendo escrito à mão, escrito à luz de velas, quase na escuridão. Longe da multidão...

(Humberto Gessinger - Exército de Um Homem Só)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O MAL É O QUE SAI DA BOCA

Sou ateu, anarquista, defendo o a liberdade de uso da maconha. Em uma escala de valores morais dessa nossa bela sociedade provavelmente sou um dos seres mais abjetos da face da Terra.





A primeira e única vez que fumei maconha (acreditem ou não) eu estava totalmente bêbado, literalmente entorpecido por tanto álcool e vodka e mais algumas otras cositas etílicas que sequer lembro. Eu tinha uns quinze anos e meus amigos contam que subi do parapeito de uma sacada em um prédio em construção e todos achavam que eu tentava algo como alçar vôo. Essa minha experiência frustrada com a cannabis fez com que nunca mais voltasse a usá-la, mas continuei bebendo e muito (o suficiente para, no futuro, vir a precisar de um transplante de rins devido ao diabetes cuidado à base de álcool).

O Gabeira costuma dizer que a maconha é uma “lente de aumento”, se você tem merda na cabeça, ela somente vai ampliar essa merda. Bem, descobri que minha cabeça é um lugar muito assustador para eu querer voltar para lá novamente e descobri também, na prática, que a única coisa maléfica ao ser humano é o abuso de qualquer coisa. Isso inclui maconha, álcool, comida, sexo, dinheiro. Não, não estou falando da maconha, estou falando do álcool mesmo, pois, salvo uma dor de barriga horrenda no outro dia, sequer sei que barato o THC dá na gente (pelo menos eu não lembro – fumei maconha uma vez e já tenho lapsos de memória, pode?).

O álcool tem um agravante maior que as outras drogas, esse papo é batido, mas depois de ouvir anta merda sobre a maconha preciso deixar minha opinião aqui (afinal de contas esse blog é meu, se não quiser ler vai pra outro). Meu terrível vício é o cigarro, fumo compulsivamente quase dois maços por dia. Eu fumo há bastante tempo (parei seis anos de fumar, mas voltei) e quando dirigia nuca aconteceu de eu passar uma noite toda fumando e depois pegar meu carro e na esquina matar alguém atropelado. Também nunca puxei briga, bati na minha esposa ou cometi algum outro tipo de violência por fumar demais (tá, sei que o bafo chega a ser violento...).

O que me irrita e muito nas pessoas “certinhas”, “boazinhas” é a hipocrisia com que elas tratam o assunto das drogas não ilícitas. Aquele homem ou mulher que bebe a sua cervejinha no final do dia ou bebe “socialmente” nos finais de semana tem mais é que calar a sua boca, pois não tem o direito de falar mal de quem usa maconha. E não estou falando de “direito legal”, estou falando de direito moral e também estou falando de inteligência, pois até hoje só ouvi e li coisas absolutamente cretinas dos críticos da maconha, todas baseadas ou totalmente repetidas de telejornais. Nunca vi um discurso bem embasado que sequer eu pudesse considerar ou pensar “esse cara até que têm alguma razão”, apenas os papagaios repetindo o que leram e ouviram na mídia (a sua única fonte de inteligência).

Tenho grandes suspeitas de que o uso exagerado de maconha por muitos anos corrói o cérebro, assim como tenho certeza que o uso indiscriminado de AAS por muito tempo detona com cérebro também; assim como sei que quem come em exagero ou não come nada pode ter uma morte bem triste. E sei muito bem que quem usa bebida de álcool em exagero em apenas uma noite pode matar muitas pessoas em um acidente de trânsito e quem usa álcool por muito tempo acaba destruindo a sua vida e a da sua família inteira. Assim como sei que quem bebe e não assume que isso é uma droga é um hipócrita cretino e que se o álcool fosse proibido por lei ele continuaria bebendo escondido e fazendo discursos em público contra a “maldita cerveja”. Seria ele também que sustentaria o tráfico de bebidas e frequentaria assiduamente as “bocas” da cidade a procura “da boa”.










Meus amigos e amigas, cidadãos e cidadãs de bem, por que vocês chamam os caras do Planet Hemp de criminosos quando cantam “Legalize já!” e vão para seus bailinhos da sociedade ouvir “A cerveja me Adora!”, “Dilúvio de Cerveja”, “Arreia Cerveja” ou então catar “Hoje é sexta-feira, traga mais cerveja...” e ainda por cima fazendo aquelas dancinhas ridículas, agarrados em uma garrafa, envergonhando seus filhos que estão ali no cantinho, loucos pra vocês perderem ainda mais a noção do ridículo e esquecerem-se deles para os coitados poderem ir para o cantinho fumar seu beck sossegados? Será que é pelo mesmo motivo que vocês chamavam os Raimundo de imorais por dizerem palavrões em suas músicas e achavam a coisa mais linda do mundo sua filhinha de sete aninhos esfregar a bundinha na cara de outro menininho imitando a coreografia de alguma daquelas “banda” de axé de vocês deram o CD de presente para ela???

Há poucos dias vi um documentário sobre a tal luta pela liberação do plantio de maconha nos EUA. Vi uma cena surreal, onde, em uma cidadezinha interiorana, um grupo de fazendeiros comemorava a excelente safra de cannabis naquela estação; junto a eles estavam o prefeito e os deputados membros do conselho da cidade (dois deles que tiveram seus cargos restituídos graças aos altos impostos arrecadados com a venda legal da maconha). Imagino que essa cena há uns quinze anos atrás somente seria vista em uma comédia do Monty Python. Na verdade a nossa sociedade é mesmo uma piada.

Falando em legalização, creio serem um tanto inúteis as marchas em prol da descriminalização da maconha aqui em nosso Brasil. O tráfico dá muito dinheiro e não é para os moradores do morro que vendem drogas no varejo, alas, quem lucra com isso está bem descansado e sua poltrona de couro. Não existe nenhum interesse em legalizar algo que dá tanto dinheiro assim, que não paga impostos. Outro fato óbvio, mas que passa longe da maioria dos discursos dos defensores da legalização é de que o que dá bem mais dinheiro que o tráfico de drogas é o tráfico de armas e esse segundo comércio mais rentoso acabaria automaticamente com a criação de alguma lei em favor da venda legal da cannabis. Outro grande problema seria o descaminho de cigarros de maconha via fronteira. Não tenho nada contra burlar alguns impostos, mas a qualidade dos produtos (assim como do cigarro) deixaria em muito a desejar; assim como foi com a Lei Seca nos EUA nos anos 40, onde a mesma teve de ser revogada porque a população estava morrendo intoxicada por ingerir bebidas alcoólicas feitas no quintal da casa do Al Caponne. Mais uma vez voltamos àquela velha encruzilhada que nos leva sempre ao mesmo lugar, aquele velho vício das pessoas por dinheiro, lucro, status.

Hipocrisia, dinheiro, aparência... Nossa linda sociedade.





Eu sou muito abjeto mesmo.














































































Se alguém bonzinho ou certinho (que com certeza nao se enquadra nos meus leitores habituais) está pensando em deixar alguma resposta cretina aqui, está perdendo seu tempo: Eu deleto! Censura? Exato, Censura e Bom Gosoto. Vai escrever o teu blog que eu prometo não ler e nem divulgar aqui.




Ah! Apesar de ser de um texto biblíco, o título dessa postagem é uma alusão (adoro alusões) a uma música do Pepeu Gomes. Quem já é mais, digamos, antigo, entendeu o porque. Quem não é, procura no You Tube que deve ter.

2 comentários:

  1. Além disso, qq os traficante iam fazer da vida (sendo que muitos sustentam suas famílias). Será que o governo ia dar trabalho pra toda essa gente?? (e não vem me dizer que eles deveriam ser presos... né??? dã)
    será que as fumageiras iam empregá-los, visto que elas ficariam com o lucro??
    Temos que ser a favor sim é da DESCRIMINALIZAÇÃO da maconha, assim como das outras drogas... Mas pra legalizar temos muitos desafios ainda pra pensar...

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  2. O maior problema que eu vejo em relação a maconha como droga ilicita, é o seguinte. Hoje em dia a grande maioria dos jovens já fumou ou em algum momento da vida vai fumar maconha. Agora se para ir pegar um quase inofencivo baseadinho o jovem já tem de entrar em contato com o traficante. Para provar outras drogas bem mais barra pessada como cocaina e crack, é só mudar a palavra na hora de pedir. Acho que se tivesse alguém na politica interesado na saude e no futuro do brasil, e não só em encher o bolso. Legalizaria a maconha e com o lucro dos impostos cairiam forte no combate das outras drogas. E falando em lei, porque um rapaz que é pego com 100g de maconha, que para otimizar o tempo foi pegar para ele e pros amigos, tem a mesma punição do rapaz que é pego no beco vendendo pedras de crack. Tá na hora de revermos muita coisa neste pais. tá ai meu pensamento, obrigado pelo espaço;

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